Geralmente tudo o que podemos esperar do
entretenimento são variações sobre o mesmo tema. E talvez pelo alcance, na TV
isso se mostra mais evidente.
Mas de tempos em tempos surgem projetos que proporcionam
novidades revolucionárias. X-Files (1993) e Lost (2004) são dois excelentes
exemplos disso. As duas séries apresentaram assuntos recorrentes de forma extraordinariamente
inovadora. E com isso arrebataram milhões de seguidores em todo o mundo.
Eu não sou muito de assistir Drama mas em 2003
Ryan Murphy conseguiu com Nip/Tuck, de modo igualmente admirável, fugir do clichê
do dramalhão pertinente ao gênero.
Quando Murphy anunciou o projeto American
Horror Story achei a premissa fascinante. Primeiro porque adoro o gênero e segundo
porque eu acho o sujeito genial.
Mas tive uma preocupação: a ideia de ser uma
história fechada a cada temporada. Temas, personagens, atores diferentes,
mesmos atores retornando em outros papeis. Como fazer algo que fosse instigante
o suficiente para você querer assistir até o final e retornar pra algo
totalmente diferente no próximo ano?
E ele conseguiu! American Horror Story foi a
melhor coisa que aconteceu na TV em 2011. Não havia nada parecido. E talvez
ainda não haja. Mesmo os temas mais banais viram ferramentas fenomenais pelo
modo como são retratados. E o uso de personagens e acontecimentos macabros da
vida real nas histórias dá um tom especial à série.
Também não posso deixar de mencionar o elenco extremamente
talentoso e o exímio time de roteiristas e diretores que certamente
contribuíram para o assombroso sucesso da série. Desculpem o trocadilho.
Murder House tinha como argumento principal uma
casa mal assombrada. Até aí nenhuma novidade. Mas a surpresa é que a cada
episódio as incontáveis tragédias ocorridas durante décadas vão se revelando com
maestria. Os personagens principais são extremamente bem construídos. E até o
romance adolescente se encaixa na história sem ser piegas.
A utilização de referências factuais como o massacre
na escola de Columbine, a mansão de Amityville e seus supostos acontecimentos
bizarros, elementos do folclore popular como a Tábua Ouija e a lenda urbana
Bloody Mary servem de inspiração para a construção da narrativa. Além de
mostrar a história real do brutal assassinato de uma aspirante a atriz que
ficou conhecido como Black Dahlia.
A primeira temporada contou com 12 eletrizantes
episódios. E ao fim de cada um, eu sempre esperava ansiosamente pelo próximo. Mas
então, acabou. E agora? Foi a melhor coisa que eu já tinha visto. Será que
Murphy e seu time conseguiriam ao menos manter um padrão tão elevado?
Inesperadamente Asylum superou todas as minhas
expectativas. Foi infinitamente superior. Minha surpresa se deve ao fato da história
se passar em um hospício em 1964. O que poderia sair disso? É claro que
manicômios por si só já são assustadores mas render, dessa vez, 13 episódios...
Outra grande sacada foi trazer Jessica Lange e
Evan Peters de volta, além de Sarah Paulson, Lily Rabe e Zachary Quinto, desenvolvendo
personagens tão distintos dos que interpretaram na temporada anterior o que
tornou tudo muito mais interessante.
E novamente as referências a fatos e
personagens reais estão presentes. Os experimentos e o próprio Dr. Arden
certamente são inspirados em Josef Mengele. Os homicídios e MOs cometidos por
Bloody Face e Grace Bertrand são alusões aos famosos crimes de Ed Gein e Lizzie
Borden.
E ainda temos possessão demoníaca, extraterrestres
e as intolerâncias e suas nocivas repercussões a casamento inter-racial,
poligamia e relacionamentos homossexuais.
Aí eu relaxei e pensei: ok, a próxima temporada
vai ser, no mínimo, igual a Murder House. E pode até ser igual ou melhor que
Asylum. Tema principal: bruxas. O retorno de Denis O’Hare e as novas aquisições
de Angela Bassett e Kathy Bates. Sério, o que poderia dar errado? Mas deu. E muito.
Mare Winningham fez uma participação pequena,
porém brilhante. Mas pelo menos tinha a ver com a história. Mas o que dizer de
Patti LuPone? Ter uma atriz/cantora tão talentosa e usar em um personagem que
se não fosse interpretado por ela nem seria notado.
Levar o clã das bruxas de Salem pra atmosfera mística
de New Orleans. O vodu. Usar como personagens pessoas maléficas reais como
Marie Laveau, Madame LaLaurie e Axeman. Sem contar o Minotauro e as referências
à criatura do Frankenstein. Tudo meramente pincelado e nada efetivamente
desenvolvido.
Eu esperava mudanças, é claro. Afinal esse é o
lema de AHS. Originalidade a cada temporada. Mas acredito que nesse caso não
funcionou. Talvez tenha sido uma decisão da emissora a fim de aumentar a
audiência, não sei, mas o uso exagerado do tal toque de humor sem
necessariamente ter a ver com o enredo; a história das bruxas teen e sem noção que
foi extremamente entediante mesmo com a fabulosa Gabourey Sidibe entre elas.
Enfim, colocaram tanta coisa que no final não
deu tempo pra aprofundar em nada. Seja na história ou nos próprios personagens.
O que foi uma pena. Pelo menos pra mim, já que eu achava que esse era o melhor
tema que AHS teve.
Acabou e eu não sinto a menor falta. Especialmente
depois da exibição do último episódio. Então veio o próximo tema: Freak Show. E
aí eu pensei: nossa, não vou aguentar um parque de aberrações com toques de
humor e personagens vazios.
Mas
nem tudo está perdido. Ryan Murphy já declarou que a quarta temporada será mais
ao estilo de Asylum. E achei divertido pensar que o tema que achei menos
atraente foi o que mais gostei e vice-versa. Então, quem sabe. Que venha Freak
Show!
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